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Kama muta - a emoção de ser movido pelo amor

CATEGORIA

Terapia de casal Emoção Terapia individual Relacionamentos

AUTORA

Daniela Rocha IJzerman

Regularmente eu leio um artigo que gosto e que considero relevante para a psicoterapia. Eu o resumo e discuto como o considero relevante para os clientes em meu blog. Você tem perguntas, comentários ou sugestões para outros artigos a serem lidos? Deixe um comentário abaixo do post. 

Discussão do artigo The Sudden Devotion Emotion: Kama Muta and the Cultural Practices Whose Function Is To Evoke It

A Emoção Súbita de Devoção

No artigo The Sudden Devotion Emotion: Kama Muta and the Cultural Practices Whose Function Is To Evoke It, Dr. Fiske e colegas discutem a emoção kama muta, que em sânscrito significa "movido pelo amor". Eles explicam que podemos reconhecer esta emoção quando de repente experimentamos uma intensificação do sentimento de confiança, cuidado e pertencimento. Os autores sugerem que a função da emoção kama muta é de nos engajar e nos comprometer com aqueles que nos rodeiam. Considero que experimentar kama muta nos aproxima dos outros, nos torna mais comprometidos com os outros e, portanto, nos torna mais responsivos aos outros (se você quer saber sobre responsividade, escrevi sobre esse assunto em um post anterior). 

Embora possamos ter um sentimento positivo quando experimentamos o kama muta, os autores argumentam que o kama muta é uma emoção que geralmente surge em um contexto de perda e anseio. Por essa razão, o kama muta pode ser evocado em combinação com outras emoções negativas (por exemplo, tristeza) e vários eventos negativos da vida (por exemplo, a perda de um ente querido). 

Mas como podemos saber se o que estamos experimentando é de fato kama muta? Uma maneira de reconhecer as emoções é identificar as sensações físicas que acompanham o kama muta. Em outro trabalho relacionado, Dr. Fiske e colegas descobriram que quando experimentamos kama muta, sentimos calor em nosso peito, arrepios e lágrimas nos olhos (mas é claro, mesmo que essas sensações físicas ocorram comumente quando experimentamos kama muta, também podemos experimentar kama muta sem essas sensações físicas; isso é em parte a complexidade da nossa vida emocional). 

Como o Dr. Fiske e colegas descreveram em seu trabalho de revisão, podemos experimentar kama muta sem nenhum esforço particular vindo de outra pessoa (por exemplo, quando pensamos em alguém que amamos). Podemos também senti-lo quando alguém é muito generoso conosco (por exemplo, um estranho gentilmente nos ajudando) ou quando há muito esforço envolvido até culminar em um encontro emocional (por exemplo, o momento em que um pai abraça um filho que acaba de chegar de uma luta na guerra). Finalmente, também é possível experimentar o kama muta simplesmente testemunhando a intensificação de um vínculo de relacionamento entre outras pessoas (por exemplo, assistir a um emocionante pedido de casamento). 

Implicações para os clientes que atendo em terapia

Quando clientes adultos com uma história de trauma de infância se imaginam cuidando de si mesmos quando eram criança, este é um momento em que normalmente vejo meus clientes experimentarem o kama muta. Ou quando na terapia de casal um dos membros compartilha seu sentimento mais vulnerável de não ser suficientemente bom para seu parceiro, quando eles conseguem abrir seus corações, isso muitas vezes evoca kama muta em ambos. Quando testemunho esses encontros comoventes (imaginários ou reais), eu também sinto o calor em meu peito e os arrepios em meus braços, ambos típicos do kama muta. 

Entendo que o kama muta pode ter uma função na terapia, que é a de dar aos clientes a sensação de estarem seguros comigo. Esta segurança pode ajudá-los a mudar a maneira como se relacionam consigo mesmos e com os outros. Suspeito que o sentimento de pertencimento evocado pela kama muta ajuda meus clientes a regularem melhor seus medos. Como mencionei em meu post anterior, quando confiamos que os outros estarão lá para nos apoiar, nos sentimos seguros e estamos mais aptos a ter nossas necessidades atendidas. Como terapeuta, espero fazer com que meus clientes se sintam seguros para explorar os recursos que eles carregam dentro de si mesmos e que talvez também possam encontrar em seus relacionamentos.

Limitações na aplicação do estudo à terapia e Conclusão

Considerando as definições que Dr. Fiske e colegas usaram para definir kama muta, eu associei esta emoção com os conceitos de percepção de apoio social e responsividade. No entanto, os autores não se referem a estes conceitos em seu trabalho e a ligação que faço é, portanto, bastante especulativa, do ponto de vista da pesquisa. Eu estou interpretando o que eles encontraram na pesquisa como terapeuta observando meus clientes.  

Outra limitação é a complexidade envolvida em interpretar a emoção que alguém sente e o que é demonstrado externamente. Quão fácil é para mim, como terapeuta - particularmente nesta fase deste programa de pesquisa - saber se alguém está sentindo kama muta ou não? As lágrimas que eu vejo vindo dos olhos de meus clientes quando eles parecem se sentir tocados podem apenas sinalizar tristeza. É preciso um esforço conjunto do cliente e do terapeuta para entender o que o cliente está vivenciando. 

Este contexto emocional de perda e anseio presente no kama muta também está presente na psicoterapia. Quando as pessoas chegam à terapia, elas esperam encontrar algo que faz falta em suas vidas e em seus relacionamentos. Acredito que a preocupação empática que as pessoas sentem quando experimentam o kama muta pode ser um ingrediente chave para que ocorra uma mudança no processo psicoterapêutico. Eu considero que o kama muta pode muito bem ser um ingrediente-chave para fomentar um sentimento de confiança que pode ajudar as pessoas a mudar a maneira como vêem a si mesmas e aos outros.


Imagem extraída do artigo The Sudden Devotion Emotion: Kama Muta and the Cultural Practices Whose Function Is To Evoke It

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