Regularmente eu leio um artigo que gosto e que considero relevante para a psicoterapia. Eu o resumo e discuto como o considero relevante para os clientes em meu blog. Você tem perguntas, comentários ou sugestões para outros artigos a serem lidos? Deixe um comentário abaixo do post.
Discussão do artigo Relationship status and perceived support in the social regulation of neural responses to threat
Os relacionamentos podem tornar nossas vidas mais fácil de muitas maneiras. Neste post do blog, discuto um estudo que apresenta evidências para a idéia de que as regiões cerebrais associadas à detecção de ameaças são menos ativadas quando indivíduos tem pessoas familiares segurando suas mãos. Quais são as implicações deste estudo para a psicoterapia? Quais são as potenciais aplicações e os potenciais benefícios para os clientes que têm a presença de uma outra pessoa significativa durante as sessões de psicoterapia? Há alguma possível limitação para os clientes que eu atendo?
O estudo
Existe atualmente uma grande coleção de estudos mostrando que as relações sociais estão ligadas à longevidade e a ser mais saudável. Esses achados estão resumidos em um estudo chamado meta-análise conduzido por Julianne Holt-Lunstad e seus colegas. Esta meta-análise mostra que até mesmo fatores de risco bem conhecidos para nossa saúde, como o fumo e a obesidade, não representam um risco maior do que a falta de conexão social.
Mas quais são os potenciais mecanismos que podem explicar os efeitos benéficos dos relacionamentos? No artigo que eu escolhi comentar neste post, James A. Coan e seus colegas sugerem que o apoio emocional pode ajudar a regular o afeto quando sob ameaça. Eles estudam isto através da investigação das respostas cerebrais quando um dos parceiros recebe um choque elétrico enquanto seguram a mão do parceiro. Os pesquisadores avaliaram a forma como os participantes percebiam a disponibilidade de apoio social que tinham usando um questionário de auto-relato e o status de relacionamento de seus participantes (isto é, se eles eram casados, se estavam namorando, coabitando, ou tinham amigos platônicos). Eles descobriram que dar as mãos a uma outra pessoa familiar, independentemente do tipo de relacionamento que as pessoas tinham, reduziu a ativação de regiões cerebrais associadas à detecção de ameaças. Dar as mãos à estranhos ou estar sozinho não reduziu tal atividade cerebral.
Entre os participantes que percebiam ter maior apoio social, as áreas do cérebro associadas à ameaça foram ativadas ainda menos quando estavam segurando a mão de seus parceiros. Por outro lado, a atividade cerebral nessas áreas aumentou quando eles estavam de mãos dadas com estranhos. Em outras palavras, os pesquisadores descobriram que pessoas mais familiares parecem ter um impacto maior na redução de nossos sentimentos de ameaça e este efeito é maior quando as pessoas reconhecem o apoio social que recebem.
Implicações para os clientes que atendo em terapia
Como eu vejo a relevância deste estudo para os clientes que atendo em psicoterapia? Durante a terapia, as pessoas falam de eventos difíceis, o que geralmente traz sentimentos de tristeza, estresse, ou pelo menos algum nível de desconforto. No início da terapia com um cliente, eu sou uma mera estranha e o ideal é que eu comece a funcionar como uma base mais segura à medida que a terapia avança. No final da terapia, espero reduzir os sintomas desagradáveis de ansiedade ou depressão dos clientes e aumentar seus sentimentos de significado, para que meus clientes cresçam ainda mais na vida. No entanto, a vida certamente continuará a apresentar desafios após o término da terapia e outras "ameaças" surgirão.
Se os clientes pudessem ter um outro significativo tanto no início quanto durante as sessões de terapia e tivessem uma relação de apoio, eles provavelmente se sentiriam mais seguros e possivelmente aliviados dos muitos sentimentos desconfortáveis que podem sentir ao se lembrarem de memórias difíceis. Ao convidar outras pessoas significativas para participar de sessões de terapia individual, também posso direcionar o processo terapêutico para ajudar os clientes a manter ou até mesmo construir laços mais fortes com seus parceiros, familiares ou amigos. Os clientes estarão então possivelmente melhor equipados para enfrentar os tempos difíceis que se aproximam.
Limitações ao aplicar o estudo à terapia
Embora eu pense que um parceiro pode ser crucial para o sucesso da terapia, há vários casos em que isso não é o caso. Portanto, preciso garantir que meus clientes estejam seguros para se abrirem a partir de uma posição vulnerável. Fui treinada para ajudar a criar e manter um ambiente terapêutico seguro e para proteger meus clientes de interações difíceis quando estas ocorrem, incluindo a identificação de potenciais contra-indicações. Afinal, revelar pontos vulneráveis a alguém que reage com críticas pode ser traumático.
Há também algumas coisas a serem lembradas a partir de uma perspectiva de pesquisa. Na ciência da psicologia, tem havido discussões ávidas em torno do tamanho da amostra e do "poder estatístico". O tamanho da amostra neste estudo foi modesto, o que significa que, como terapeuta, preciso ter cuidado com o quão firmes são as conclusões que tiro. Além disso, os clientes que vejo são bastante diferentes dos participantes do estudo de de Coan e seus colegas de Charlottesville, Virgínia, Estados Unidos. Meus clientes são expatriados que moram na Europa ou brasileiros que vivem no Brasil ou em outro lugar. Não sabemos como os resultados de Coan et al. podem ser generalizados para os clientes que atendo, afinal meus clientes podem ter antecedentes dramaticamente diferentes se comparados com seus participantes. Como terapeuta, tomo muito cuidado ao interpretar estas diferentes situações no apoio aos meus clientes durante a terapia.
Conclusão
No conjunto, a ciência da psicologia tem fornecido consistentemente provas da importância das relações sociais para nossa saúde. A psicoterapia pode tirar lições da ciência da psicologia ao integrar estas descobertas na prática com os clientes. Como terapeuta, eu, portanto, dou atenção às lições de como tornar a terapia individual mais "social", fazendo com que pessoas significativas para meus clientes participem das sessões.
Imagem de Alex Green